Somos
estúpidos. Nós, portugueses. Pelo menos a maioria. Quem o disse foi o líder do PS,
Ferro Rodrigues. Indirectamente.
A JS realizou um acampamento nacional. E Ferro Rodrigues abriu a boca.
Asneira, para não variar. Deve ter sido dos ares.
Disse que o slogan da coligação PSD/CDS para as próximas eleições europeias,
Força Portugal, era uma deliberada manipulação da opinião pública, tentando misturar política com futebol. Está bem.
Mas isto melhora. Porque é que é uma manipulação? Porque a expressão
está em muitos cachecóis e anda na boca das pessoas que vão ao futebol e que gostam da selecção nacional. Aaaahhhh...
Ficámos a saber a ideia que o Dr. Ferro Rodrigues tem dos eleitores
portugueses. Estúpidos, muito estúpidos. Não é que vão votar de acordo com um slogan que lembra o mundo futebolístico? No
momento de votar, não vão pensar quais os candidatos com mais credibilidade, nem qual o partido em que mais podem confiar.
Não. Os portugueses, esses idiotas, vão votar num slogan que lembra o futebol. Sabem como é, o povo, estúpido, vai atrás dessas
coisas.
Já estou a ver a declaração na noite das eleições: perdemos porque os
portugueses tinham na cabeça o futebol! Com um líder da oposição assim, Portugal tem muito mais com que se preocupar do que
com o futebol...
Se Ferro Rodrigues acredita mesmo no que disse, já estou também a ver
os slogans do PS nas próximas eleições:
Autárquicas: Alé, asmático alé, nós somos a tua voz, queremos esta vitória,
e alguns tachos pra nós!
Legislativas: Just do it, com Ferro Rodrigues este até arrepia!
E por aí fora...
O pior é que há aqui uma lógica. O complexo de superioridade da Esquerda
portuguesa. Sim, superioridade. Já ouviram os políticos de Esquerda? É vê-los de vernissage para atelier, de festa para cocktail,
de colóquio para mesa-redonda, a dizer para quem os quer ouvir: a Esquerda (e só a Esquerda!) é pela solidariedade, pela igualdade,
pela liberdade, pela cultura, pela estética, pela intelectualidade, pela ideia, por tudo o que de mais sublime o espírito
humano é capaz de produzir.
Isto tem uma dificuldade, claro. Às vezes o povo não atinge. É um problema.
Vejam lá, às vezes o povo até prefere o centro-direita e/ou a direita, esses neofascistas despóticos, sempre à procura de
maneiras de explorar o próprio povo!
Só há uma solução: ser a vanguarda do povo! Esta ideia está sempre subjacente
no pensamento da Esquerda. No fundo o povo é ingénuo, ignorante mesmo. Pois se não leu Marx, nem Marcuse, nem Gramsci, nem
Giddens, como pode ser progressista?! A Esquerda acredita que tem de educar os portugueses e, enquanto não chega lá, pede
aos portugueses que nela confiem porque sabe o que é melhor para eles.
Vão esperando...
PS(D): Já viram os cartazes do PS? Não há lá um cartão amarelo? Não
tem nada a ver com futebol, pois não?
Fernando Bravo
Abril 2004